Em 1985, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) publicou suas primeiras diretrizes sobre a prática de atividades físicas durante a gravidez e o período pós-parto. Dada a escassez de estudos na época, essas orientações foram por demais conservadoras (ACOG, 1985), inclusive mais cautelosas que as recomendações do American College of Sport and Medicine (ACSM) de 1978, dentre as quais orientava que a intensidade do exercício para a gestante deveria ser baseada na frequência cardíaca máxima de 140 bpm.
Em 2005, o ACSM realizou uma mesa redonda para avaliar a literatura disponível até aquele momento, e concluiu que a atividade física não traz prejuízo à gestante. Na realidade, traz inúmeros benefícios tanto para mãe quanto para o feto (Pirvanik et al, 2006). Então, iremos passar informações a respeito dos benefícios adquiridos por gestantes que se exercitaram antes, durante e após a gravidez.
Benefícios para o feto antes e após o parto
Os principais benefícios da prática de exercícios para o feto, durante a gestação, são ocasionados pelos efeitos na redução intermitente do fluxo sanguíneo uterino, pelo crescimento da placenta e pela menor disponibilidade de nutrientes devido às alterações na função placentária. As conseqüências disso são bebês mais magros ao nascer (Bell et al., 1995; Clapp et al., 1996; 2000), com maior tolerância às tensões fisiológicas na gravidez tardia e no trabalho de parto (Clapp et al., 1996, 2000). É importante destacar que, apesar do baixo peso ao nascer, não há aumento no risco de prematuridade comparado aos recém-nascidos de mulheres sedentárias (Misra et al.1998; Hatch et al., 1998; Mudd et al., 2013).
Em outro estudo, observou-se que, logo após o parto, os recém-nascidos das “mães atletas” estão mais alertas e menos irritados. Tudo indica que esses comportamentos são devido ao resultado da estimulação fetal que ocorreu durante os exercícios. Essas influências durante a gravidez podem repercutir no pós-parto, ao longo da infância e muitas vezes por toda a vida (Nathanielsz, 1999; Clapp et al., 1999; 2000). Para comprovar essa hipótese, Clapp et al. (1996, 1999) examinaram crianças com idade entre um e cinco anos, e verificaram que os filhos das mulheres que se exercitaram durante a gravidez apresentaram melhores habilidades mentais e motoras, eram mais magras e apresentaram melhor desempenho em testes de inteligência.
O que o futuro reserva para essas crianças é incerto, mas prevê que se mantenham magras, inteligentes e com melhor função cardiovascular e metabólica, o que poderá contribuir para uma boa capacidade atlética quando jovens (Mudd et al., 2013; Clapp et al., 2000).
Benefícios maternos após o parto
Utilizando exames e questionários realizados ao longo do primeiro ano após o parto, Clapp et al. (2000) avaliaram a saúde mental, ganho de peso, melhora da região abdominal, lesão músculo esquelética e funcionamento da bexiga de 150 voluntárias. Os resultados seguem abaixo:
* As gestantes que se exercitaram durante e após o parto demonstraram uma condição psicológica melhor do que as sedentárias, o resultado final foi uma diminuição no estresse e nos sintomas da depressão (em até 60%), o que refletiu positivamente na relação materno-infantil.
* As estatísticas demonstraram que mais de 90% das mulheres que realizaram exercícios periodicamente durante a gravidez continuaram sua rotina após o parto, e 70% conseguiram atingir sua forma física pré-gestacional. O tempo médio para voltarem a se exercitar foi de duas semanas , variando entre três dias e oito semanas. A maioria conseguiu atingir a intensidade pré-gravidez em seis meses e, o mais curioso, com capacidade aeróbia muitas vezes maior (6%-15%) que o nível pré-gestacional.
* Um ano após o parto, as mulheres que se exercitavam tiveram 30% mais chances de voltarem ao peso e percentual de gordura pré-gravidez.
* Com relação à aparência da região abdominal, os autores aplicaram um questionário no qual as voluntárias davam uma nota de 0 a 10 para suas barrigas. Para aquelas que faziam exercícios regulares, a média das notas foi igual a 8. Já as que não praticavam nenhum tipo de atividade física a nota máxima foi 4.
* Nove a cada 10 mulheres não relataram dores, sangramentos intensos, lesões músculo-esqueléticas, problemas reprodutivos ou de amamentação associados ao retorno à prática de atividades físicas.
* Durante a gravidez, muitas mulheres desenvolvem uma perda no controle da bexiga. Para algumas, isso se torna um problema crônico após o parto. Inclusive, uma das preocupações dos médicos é que isso possa ser agravado com a prática de exercícios. No entanto, foi verificado que, no período imediato após o parto, a incidência desse tipo de problema foi maior no grupo controle (60%) que no grupo das mulheres que realizaram exercícios (40%). Esses valores normalmente caem progressivamente em ambos os grupos ao longo do tempo. Mas, um ano depois, a incidência no grupo do exercício foi 20% menor.
Parto normal x cesariana
Acreditava-se que a prática de atividade física durante a gestação pudesse estimular indiscriminadamente as contrações uterinas provocando a antecipação do trabalho de parto. Contudo, outros fatores, como a idade (menos de 20 e mais de 40 anos), tabagismo, gestação múltipla, diabetes e pré-eclampsia, são mais preocupantes (Bishop et al., 1992; Lawn et al., 2010).
Bungum et al. (2000) e Dumith et al. (2012) verificaram um menor risco de parto cesariano em mulheres que realizavam exercícios físicos, especialmente nos dois primeiros trimestres de gravidez.
Já em gestantes sedentárias, esse risco
chegava a ser 4,5 vezes maior (Bungum et al., 2000).
Ganho de peso gestacional
Mulheres que ganham muito peso durante a gestação têm maiores riscos de
diabetes, de hipertensão gestacional e de gerarem bebê macrossômico (peso
superior a 4kg). Neste sentido, o controle de peso antes, durante a após a
gestação é fator primordial para a saúde tanto da gestante quanto do feto (Mudd
et al., 2013).
Vários estudos verificaram que a atividade física bem orientada é capaz de
ajudar na prevenção do excesso de peso durante a gestação (Clapp et al., 1995;
Mudd et al., 2013). Um exemplo disso foi a pesquisa de Clapp et al. (1995) na
qual as gestantes que praticavam exercícios eram em média 4kg mais magras que
as sedentárias.
Vale a pena destacar a importância da dieta no controle do peso, pois mulheres
que se exercitam e se alimentam de forma saudável, ao final da gestação, podem
pesar até 7kg a menos do que aquelas que fazem somente exercícios (Clapp et
al.1995).
Conclusão:
Podemos concluir que a atividade física durante a gestação pode trazer diversos
benefícios para o feto como:
- Maior tolerância para as tensões fisiológicas na gravidez tardia;
- Maior tolerância ao trabalho de parto;
- Melhor tolerância ao estresse;
- Melhor desenvolvimento neurológico;
- Menor peso ao nascer (saudável);
- Menor risco de prematuridade;
- Recém-nascidos mais alertas e menos irritados;
- Maiores chances de serem magros, mais inteligentes e com melhor função cardiovascular, motora e metabólica quando crianças.
Os benefícios maternos incluem:
- Melhora da função cardiovascular;
- Melhora do estado psicológico;
- Ajuda no controle do peso corporal;
- Contribui para uma recuperação pós-parto mais rápida;
- 30% mais chances de voltarem ao peso pré-gravidez;
- Diminui os riscos de parto prematuro e cesariano;
- Diminui as dores e os sangramentos intensos;
- Previne lesões músculo-esqueléticas;
- Ajuda no controle da bexiga.
Referencias Bibliográficas
American College of Obstetricians and Gynecologogists. Technical Bulletin:
Exercise during Pregnancy and the Postnatal Period. Washington (DC): ACOG.
1985.
Bell RJ, Palma SM, Lumley JM. The effect of vigorous exercise during pregnancy
on birth weight. Aust N Z J Obstet Gynaecol. 35 (1): 46-51. 1995.
Bishop KR, Dougherty M, Mooney R, Gimotty P, Williams B. Effects of age,
parity, and adherence on pelvic muscle response to exercise. Am J obstetricians
gynecologists Neonatal Nurse. (21): 401-6.1992.
Bungum TJ, Peas Lee DL, Jackson AW, Perez MA. Exercise during pregnancy and
type of delivery in nulliparae. J obstetricians gynecologists Neonatal Nurse.
29:258-64. 2000.
Clapp JF 3rd, Little KD. Effect of recreational exercise on pregnancy weight
gain and subcutaneous fat deposition. Med Sci Sports Exerc 27:170-7.1995.
Clapp JF, Lopez B, Harcar-Sevcik R. The neonatal behavioral profile of the
offspring of women who continued to exercise regularly throughout pregnancy. Am
J Obstet Gynecol. (180):91. 1999.
Clapp JF. Exercise during pregnancy. A clinical update. Clinics in Sports
Medicine. 19(2). 2000.
Clapp JF: Exercise during pregnancy. In Bar-Or 0, Lamb D, Clarkson P.
Perspectives in Exercise Science and Sports Medicine: Exercise and the Female:
A Life Span Approach. Carmel, IN, Cooper Publishing Group. p 413. 1996.
Dumith, Samuel C, Domingues, Marlos R, Mendoza-Sassi, Raul A, Cesar, Juraci A.
Atividade física durante a gestação e associação com indicadores de saúde
materno-infantil. Rev. Saúde Pública. 46(2): 327-333. 2012.
Hatch M, Levin B, Shu XO, Susser M. Maternal leisure-time exercise and timely
delivery. Am J Public Health. 88 (15): 28-33. 1998.
Kardel KR, Kase T. Training in pregnant women. Effects on fetal development and
birth. Am J Obstet Gynecol. 178 (2): 280-6. 1998.
Lawn JE, Gravett MG, Nunes TM, Rubens CE, Stanton C. Global report on preterm
birth and stillbirth (1 of 7): definitions, description of the burden and
opportunities to improve data. BMC Pregnancy Childbirth. 10 (Suppl 1):1. 2010.
Lokey EA, Tran ZV, Wells CV, et al. Effect of physical exercise on pregnancy
outcomes: A meta-analytic review. Med Sci Sports Exerc. 23:1234. 1991.
Misra DP, Strobino DM, Stashinko EE, Nagey DA, et al. Effects of physical
activity on preterm birth. Am J Epidemiol. 147:628-35. 1998.
Nathanielsz PW. Life in the womb-the origin of health and disease. Ithica, NY,
Promethean Press. 363. 1999.
Webb KA, Wolfe LA, McGrath MJ. Effects of acute and chronic maternal exercise
on fetal heart rate. J Appl Physiol. 77(5):2207-13. 1994.
Adaptado por Eduardo R. Alvarenga
www.gease.pro.br
Elke Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário